Donas do próprio negócio: Mais da metade dos MEIs baianos são mulheres

Elas não são apenas donas do próprio nariz, mas também do próprio negócio. O empreendedorismo feminino cada vez mais vem ganhando força. Segundo dados do Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae-BA), atualmente, dos mais de 430 mil microempreendedores individuais (MEIs) do estado, mais da metade são mulheres, o equivalente a 53,41%. 

Ainda de acordo com o Sebrae-BA, com base em dados de atendimento no último ano, os setores de Comércio (50,86%) e Serviços (38,76%) concentram a maior parcela das empreendedoras. Pelo menos 24,07% foram desligadas de emprego com carteira assinada e decidiram abrir um negócio. 

“Considerando a abertura de novos negócios, observa- se um percentual maior de mulheres do que de homens empreendendo. A principal motivação para o empreendedorismo feminino está diretamente ligada à independência financeira.  Em sua maioria, elas são mães e responsáveis pela família”, destaca a gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA, Janaina Neves.

Entre as áreas que mais favorecem o empreendedorismo feminino está  a venda de  vestuários e acessórios, beleza e estética, alimentação e comércio varejista de mercadorias em geral (supermercados). A especialista destaca, também, a tendência cada vez mais crescente de inserção das mulheres no mercado das startups. 

“O perfil da mulher empreendedora surge também como um diferencial, já que ela possui esse olhar mais cuidadoso para o negócio, está atenta a esses detalhes que o tornam único e são capazes de realizar múltiplas tarefas com o mesmo grau de desempenho em cada uma delas”, avalia Janaína Neves. 

 

(CORREIO Gráficos)
 

Empoderadas

A empresária Jane Sampaio é dessas mulheres que empreenderam por necessidade e, com o passar do tempo,  foi diversificando seus negócios. Jane gerencia um salão de beleza, uma oficina de conversão de gás veicular e ainda uma vidraçaria. 

“Para conciliar as três empresas é fundamental ter planejamento e não ter medo de arriscar. Comecei com a esquadria. Minha sogra tocava o negócio sozinha. Já tenho essa loja no Ogunjá há 28 anos. Recebemos de um dos clientes o salão de beleza como acordo de uma dívida. Entrei sem saber nada e joguei para frente. Aí surgiu a oportunidade do gás. Só tinha duas empresas há 15 anos aqui na Bahia que trabalhavam com isso”, conta. 

A empresa de esquadria chegou a faturar R$ 1 milhão. A oficina de conversão para gás veicular, R$ 500 mil. Enquanto o salão de beleza fatura algo em torno de R$ 100 mil. “Enfrentei muito preconceito ‘porque mulher não entende de mecânica nem de obra’. Mas venci com resistência”, diz Jane. 

E essas são só algumas habilidades femininas que favorecem o sucesso do negócio, como considera a cofundadora da escola para formação de empreendedores Sempreende,  Luciana Padovez. “Como têm mais barreiras para superar, as mulheres costumam ser mais criativas e desenvolver produtos e serviços com uma elevada dose de identidade e afetividade. Elas têm maior foco no atendimento ao cliente e são mais eficientes para motivar sua equipe”. 

Empreendedoras e criadoras da primeira escola de liderança feminina do país, as sócias Carine Roos e Amanda Gomes dão o conselho para a mulher que quer ter um negócio próprio: “É necessário ter muita clareza sobre qual é o impacto que elas querem gerar e se isso está alinhado com seus valores”, recomenda Carine. 

Outro ponto fundamental é definir ações estratégicas, como completa Amanda. “Todo produto tem que ter uma transformação, um benefício para quem compra. Então,  é importante entender o que você quer ser e o que quer se tornar por meio de seu negócio”.

SIMPLICIDADE EM LARGA ESCALA

 
Vó Sônia começou com uma loja de bolos e hoje soma 370 franquias
(Foto: Divulgação)

Sônia Ramos, a ‘Vó Sônia’,  criadora da Casa de Bolos   Começamos a Casa de Bolos em 2009, quando meu filho caçula foi desligado do trabalho. Já tínhamos, nessa época, o hábito de sentar em torno da mesa para comer meus bolos, que, feitos de forma simples e artesanal, faziam a alegria lá em casa. Era o momento para conversar, contar os casos, dar risada junto dos meus netos. O nosso negócio, que começou na simplicidade e necessidade, tinha muito potencial para crescer. No início, alguns chegaram a desconfiar do potencial do bolo caseiro e sua possibilidade de produção em grande escala, além, é claro, do desafio em manter em nossos bolos a mesma qualidade e carinho que eu fazia em casa. Na minha opinião, o que talvez a mulher agregue ao negócio é ter o sexto sentido, digamos assim, mais aflorado. Nós somos mais atentas aos detalhes e reconhecemos com mais facilidade as expressões de alegria ou tristeza. Para quem lida diretamente com o público, identificar esses sinais faz uma grande diferença. Seja quem está atendendo ou operando o negócio, ao identificar essas nuances, tem uma vantagem: se aproximar por empatia do público final. Hoje, a Casa de Bolos tem 370 unidades presente em 16 estados. Uma delas está em Salvador, no bairro de Itapuã. Ainda em 2019, a nossa expectativa é chegar a 400 unidades. O mercado de bolos caseiros tem sido muito bom para o empreendedorismo. Em menos de 10 anos de operação produzimos, aproximadamente,40 mil bolos em toda a rede. São números bastante expressivos que nos mostram um pouco do potencial do mercado e quanto ainda podemos explorar no segmento nos próximos anos. Falando em lojas, muitas delas são administradas por mulheres que, com muita garra e força de vontade, têm sido ponto fundamental na construção da marca Casa de Bolos e da propagação de nossos conceitos e valores. 

 

CINCO SEGMENTOS QUE FAVORECEM O EMPREENDEDORISMO FEMININO

1. Comércio varejista de artigos de vestuário e assessórios  De acordo com dados do Portal do Empreendedor, do Sebrae-BA, o segmento concentra atualmente o maior volume de microempreendedoras individuais. “Se olharmos as estatísticas, vamos encontrar um número grande de mulheres nos setores de Comércio e Serviços, principalmente em áreas onde elas se sentem mais atraídas, como é o caso dos artigos de vestuário, por exemplo”, afirma a gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA, Janaína Neves. 

2. Beleza e Estética É mais um segmento que Janaína destaca o interesse feminino. “O ponto em comum é que essas atividades, em sua maioria, estão sempre em alta por atenderem necessidades básicas”, explica. 

3. Alimentação  É mais um segmento que concentra um grande número de empreendedoras. Por isso, a dica da gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA é inovar: “São atividades também que precisam ser executadas observando os detalhes, para buscar a diferenciação em relação aos concorrentes”, analisa.

4. Comércio varejista de mercadorias em geral (supermercados)  O segmento também está entre os que mais concentram empreendedoras, conforme dados do Sebrae-BA. “Os negócios estão onde as empreendedoras enxergam suas oportunidades e entendem os motivos que a levam a abrir uma empresa”, fala a técnica do Sebrae-BA. 

5. Startups  Ainda de acordo com a gerente adjunta da Unidade de Ambiente de Negócios do Sebrae-BA, é cada vez maior o número de mulheres comandando startups. “Os negócios ligados à tecnologia vêm se mostrando como mais uma oportunidade para as mulheres, sobretudo no que diz respeito a solucionar demandas da sociedade”.